Livro do Mês - Guerra Civil(Marvel)


    Uma das maiores sagas do universo Marvel ganha sua versão adaptada em livro, estou falando da minisérie Guerra Civil roteirizada e desenhada por Mark Millar e Steve McNiven e adaptada em livro por Stuart Moore. Eu, como um leitor de histórias em quadrinhos incondicionalmente não poderia deixar este livro de fora da minha lista de "Livros do Mês" que conta a história que abalou de verdade toda a estrutura dos super-heróis da Marvel.
    Uma explosão causada por uma briga de super-herois amadores contra um super-vilão chamado Nitro resulta numa tragédia que acaba por matar centenas de pessoas. A população começa a ver os super-heróis com medo e a solução que o senado toma junto com o Tony Stark(Homem de Ferro) é criar uma lei de registro de super-heróis, para que recebam um treinamento adequado e um distintivo para responder ao crime com mais segurança em troca de sua identidade secreta. É claro que isso divide toda a comunidade heroica entre aqueles que apoiam a lei de registro - tendo o Homem de Ferro como representante - uma vez que retomaria a confiança publica nos super-herois ao deixá-los a merce do governo e o grupo que é contra acreditando que isso poderia por em risco a vida das famílias dos super-heróis caso tivessem sua identidade revelada ao publico, Steve Rogers(Capitão América) vai contra a lei de registro acreditando que isso é uma violação da liberdade que os Estados Unidos sempre pregou, uma vez que qualquer um com poderes que tente ajudar outra pessoa sem estar registrado será colocado numa prisão totalmente isolada. A lei é aprovada e todos aqueles que não concordam com ela formam um grupo rebelde representado pelo Capitão América lutando contra criminosos e ao mesmo tempo fugindo daqueles que foram adequadamente registrados... é assim que começa a Guerra Civil.
    O livro se resume a adaptar somente a minissérie principal lançada em 7 edições e em nenhum momento coloca seus "tie-ins"(edições das histórias em quadrinhos que contam o ponto de vista mais detalhado de cada herói envolvido na minissérie principal), porém acontecem algumas modificações em relação a minissérie que são compreensíveis para que novos leitores não sintam que pegaram a trama pela metade. Uma delas por exemplo é que além de ver o ponto de vista do Capitão América e do Homem de Ferro, também somos apresentados ao ponto de vista do Homem-Aranha, que no começo do livro é convidado pelo Tony Stark para ser um integrante dos Vingadores, como o Homem-Aranha estava acostumado a trabalhar sozinho esta por fora da tensão que já existe entre os Super-Heróis que já estão cientes da lei. O Homem-Aranha acaba sendo o personagem que faz a ligação entre o leitor e toda a situação complexa que é a Guerra Civil.
    Toda a adaptação foi muito bem escrita, Stuart Moore fez pequenas modificações em relação as histórias em quadrinhos, mas ao mesmo tempo manteve os momentos mais marcantes, tudo com uma narração sem muita complexidade em sua linguagem deixando-á acessível aos novos leitores, mas que algumas vezes peca por ser repetitiva - perdi a conta de quantas vezes os personagens fizeram "alguma careta". Se o leitor chegou a ler a versão dos quadrinhos, vai perceber que a forma como a história foi narrada deixou o livro muito mais sombrio do que foi apresentado na minissérie, esqueça todo o debate de quem realmente esta certo ou errado, de quem é mais carismático ou não. O livro deixa o leitor em dúvida a todo momento de quem esta com razão, pois os discursos e atitudes de ambos os lados deixam certa ambiguidade no ar, como se ambos fossem, ao mesmo tempo, carrasco e vitima da situação. Uma vez que Tony Stark demonstra estar nas melhores intenções, ele toma atitude errada ao deixar vilões cruéis serem recrutados para ajudar na lei de registro; ao mesmo tempo que Steve Rogers salva vários membros de serem presos pela lei de registro, também demonstra um certo descontrole em alguns dos seus discursos contra Tony Stark. A narrativa envolvente faz com que fique mais facil entender que não é uma situação divertida, não é mais uma aventura de super-heróis, amizades e relacionamentos estão sendo desfeitos... a briga não é legal porque são amigos lutando contra amigos e numa situação que nenhum lado tem plena razão.
    Stuart Moore também consegue passar com maestria todo o simbolismo que tem por trás da história. Guerra Civil não é só uma história de super-heróis lutando contra super-heróis por causa de uma lei fictícia, existe todo um contexto politico por traz do desenvolvimento da história. A minissérie Guerra Civil foi lançada em 2006, George W. Bush estava no meio de sua candidatura e a "guerra ao terrorismo" estava longe de terminar, os Estados Unidos se encontrava dividido entre apoiar seu presidente e criticá-lo uma vez que seus atos contra o terror envolvia muitos prisioneiros inocentes. Muitos imigrantes iraquianos foram presos por serem considerados terroristas em potencial sem provas. A Marvel tinha um ponto de vista claro sobre isso que foi passado para as paginas dos quadrinhos. Para a Marvel o Capitão América e o Homem de Ferro simbolizam duas Américas conflitantes: Capitão América simboliza a antiga America caracterizada pela busca da liberdade e pela imagem ideal antiquada ao qual o Estados Unidos foi fundado(e por isso simboliza aqueles que criticavam Bush); já o Homem de Ferro simboliza a nova America, com suas leis, corporativismo, e burocracia(resumidamente era tudo que a presidência de Bush se apoiava), Naturalmente nenhum dos dois lados estavam completamente certos, mas acabavam tomando atitudes opostas e extremas. De muitas maneiras a forma como as duas Américas pensavam aparece nos discursos dos dois e naturalmente ajudou a decidir o desfecho, uma vez que a Marvel, apesar de não gostar da nova America acredita que ela é quem prevaleceria com o tempo.
    No final a Guerra Civil é uma ótima leitura - tanto a minissérie quanto o livro - vai mexer de algum jeito com a cabeça do leitor, seja pela ideia de ser a favor ou contra o registro e de que forma isso se aplica nas suas escolhas éticas, seja pela ideia de ver seus super-heróis preferidos se dividindo e vendo uns aos outros como inimigos ou pelo o que os personagens representam ao transportar o conflito para uma situação real como a guerra ao terrorismo. Leitura totalmente recomendável para todos aqueles que curtem super-heróis.

Abaixo todos a edições "Tie-ins", mais o encadernado da minissérie, mais o livro Guerra Civil(Todos em minha posse Muahuahua).



Autor: Vinícius Pacheco Silva

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