O Gongo da Derrota
Quando criança,
eu ouvia meus pais... na verdade, não só meus pais como vários adultos contando
o que sonhavam ser quando crescer. Ouvia como chegaram perto do sucesso, como
alguns chegaram até a praticar profissionalmente suas aptidões... E logo depois
recebia o conselho incoerente dos mesmos, com feições tristes, porém
determinadas de que devíamos estudar aquilo que mais estivesse dando dinheiro,
independente do que fosse, Independente se aquilo fosse algo que gostássemos ou
não e que se tivessem feito o mesmo naquela época estariam bem melhores hoje, eram
discursos e mais discursos, pareciam determinados em gravar isso na mente das
crianças, como se dinheiro fosse algo mais importante, mais importante até do
que suas virtudes! Estariam bem melhores né? Nunca conseguiram me convencer
disso. Talvez faltasse convicção em todos eles, mas existia um ar de conformismo
e vergonha em todos, como se em algum momento da vida deles o gongo tivesse
tocado pela última vez anunciando uma derrota permanente. Anunciando que, por
mais que tentassem, tinham a certeza absoluta que não receberiam nada mais do
que aquilo.
Quando criança
ficava me perguntando e imaginando em qual momento o gongo da derrota foi
tocado, em qual momento decisivo de suas vidas tiveram a certeza de que não
deveriam mais tentar e se acomodaram em suas vidas tão tristes que seu único
consolo é aconselhar futuras gerações para que não tentem seguir pelo mesmo
caminho, para seguir por caminhos mais seguros e pré-determinados: “estude bastante
– de preferência aquilo que vai dar mais dinheiro - se forme e consiga um
emprego estável e que ganhe bem”. Queria saber em qual momento o gongo da
derrota tocava justamente para me prevenir, evitar acreditar nas mentiras
tristes que tentam passar para nós. Isso era antes, pois agora, depois de
passar por tanta coisa e sentir o tempo correr cada vez mais rápido, o meu maior medo não é sempre tentar e nunca conseguir, o meu medo é
ouvir o gongo tocar.
Autor: Vinícius Pacheco Silva
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