O Julgamento de Benjamin - Capitulo 1


    Garotos, jogando bola no campinho do condomínio, avistam Ben olhando pela janela enorme de seu apartamento, apoiando a testa em seu antebraço que por sua vez esta  apoiado no vidro da janela, demonstrando grande interesse em tudo o que acontecia lá embaixo. Um dos meninos para de jogar, percebendo o Sr. Ben, resolve encara-lo de volta avisando aos outros meninos sobre aquele sujeito, logo todos pararam a partida curiosos sobre aquele estranho na janela, todos tinham uma opinião sobre o Sr. Ben: alguns diziam que ele trabalhava para o homem do saco, selecionando as crianças durante o dia; outros diziam que ele somente era amigo do sindico e que mesmo com câmeras filmando, o Sr. Ben observava e relatava qualquer coisa errada pro sindico, terceiros diziam que ele estava em prisão domiciliar por matar toda a sua família... todos jurando que sua versão era a verdadeira, como boas crianças que são.
    Tudo que Benjamin fez foi observar com a testa franzida e com olhar de reprovação qualquer coisa que os meninos estivessem falando, ficou encarando as crianças durante um bom tempo esperando que estes voltassem à jogar, mas todos eles continuaram olhando de volta, Ben começou um competitivo teste de resistência com as crianças, e assim ficaria o dia inteiro se um dos meninos não tivesse falado algo para o colega, o que acarretou numa grande gargalhada, mas ainda continuaram olhando. A janela estava toda vedada, mas para Ben estava obvio que estavam debochando dele... estava em desvantagem... havia perdido.
    Um pouco desconcertado com a situação, Ben desviou o olhar para a direita, onde ficava o estacionamento e avistou um caminhão de mudança sendo descarregado, forçou um pouco a vista para identificar o novo morador e rezou para que não estivesse se mudando para o quarto da falecida e adorável Dona Lena que ficava no quarto em frente ao seu; "nem tão adorável assim" pensava Ben se lembrando que a idosa tinha a vida mais monótona possível, era como se estivesse ensaiando a hora da morte, na qual ninguém soube até que a fumaça de sua janta queimada chegará aos vizinhos, "só saia para ir à igreja, que vida mais chata" pensava Ben.
    Antes que o protagonista me constranja ainda mais com todo esse mal interesse pela vida alheia, sinto que devo dar explicações para o comportamento de Benjamin: Este rapaz com 30 e poucos anos e beirando os 40, mora a pouco mais de um ano nesse apartamento com janela de vidro de visão panorâmica vedada; apesar de todo esse tempo, ainda não terminou de desfazer todas as caixas de mudança e esta longe de fazer isso deixando pilhas de roupas, livros e louças pra arrumar. Apesar de ganhar pouco trabalhando como caixa de supermercado, consegue pagar suas  contas e, apesar de trazer a cama, a TV e sua poltrona da casa de sua mãe, Benjamin não tinha outro passatempo a não ser ficar observando a bela paisagem panorâmica... isso no inicio... pois de tanto ficar observando as pessoas lá embaixo, acabou encontrando o entretenimento das horas vagas nas vidas alheias, sempre expiando e criticando as pessoas do condomínio.
    Voltando à história, Benjamin muda sua atenção da janela vedada para o corredor quando percebe um grande estrondo vindo da escadaria, ao abrir a porta se depara com um rapaz baixinho, porém musculoso, de regata, bermuda e chinelo Havaianas, todo peludo com o rosto avermelhado, talvez de carregar uma caixa inversamente proporcional ao seu tamanho.
    - Onde fica o 202? - disse o rapaz quase gemendo bufando e com os olhos semi cerrados de tanto esforço.
    - Fica logo ali - disse Ben posicionando o senhor em direção a porta certa, da qual já estava aberta... mas chegando à porta, o rapaz esbarrou o braço na lateral e desabou porta adentro, para o gracejo de Ben que ainda ria quando uma mulher linda, carregando somente uma bolsa no braço, uma saia longa e florida valorizando sua cintura fina e uma blusa top preta  deixando sua barriguinha à vista para todos que quiserem ver seu piercing no umbigo; esta ruiva de cabelos cacheados e olhos castanhos claro, estava acompanhada por dois jovens carregando caixas igualmente pesadas ao que o pequeno homem deixará cair, porém traziam com mais facilidade.
    - O senhor esta bem? - perguntou "A Mulher" com voz suave ao senhor que ainda se recuperava da queda.
    - Sim... sim estou, só perdi o equilíbrio. - disse o senhor, mais desconcertado do que com dor. Benjamin observava de sua porta os detalhes das curvas da mulher, bem delicados por sinal, uma perfeição, nem muito avantajados, mas muito bem salientados e que agora se voltavam em direção à escadaria.
    - Pois bem dama, quero me apresentar, sou Benjamin, ao que parece serei seu novo vizinho e lhe dou boas vindas, senhorita...?
    - Sophia, obrigada pelas boas vindas. - ela disse com um sorriso de Monalisa.
    - Sophia... que nome lindo... - Ben deu uma longa pausa aparentando flertar com a nova residente, mas na verdade estava reparando nos detalhes de seu rosto - Posso ajuda-lá com a mudança, Já que parece lhe faltar braços fortes - disse Ben olhando para senhor de estatura baixa que ainda apalpava o joelho dolorido da queda, como que querendo diminuir o sujeito por meio de insultos; este porém, aparentava nem ter ouvidos para a conversa do casal.
    Sophia, a nova inquilina agradeceu a ajuda e logo lhe mostrou onde as caixas foram deixadas; Ben revesava as caixas com os dois jovens ajudantes - uma vez que o senhor baixinho e desajeitado admitira sua idade avançada para carregar caixas pesadas e agora cuidava do caminhão.
    Ben, após descarregar o caminhão e ver que os dois jovens aparentavam certa saúde enquanto ele estava se afogando em seu próprio suor, estava pronto para admitir também que estava velho demais para aquilo, quando avistou as mesmas crianças do campinho, todas olhando para ele, "malditas crianças" pensava Ben enquanto reparava que algumas estavam rindo - provavelmente dele - Ben tinha plena convicção disso e não podia dar o braço a torcer.
    - Percebo que não tem onde jantar, já que a mudança acabou agora, por que não janta comigo? - Benjamin já entrelaçando o seu braço com o dela.
    - Oh! seria ótimo! - exclamou Sophia mais assustada com o tranco do que com Benjamin besuntado em suor.
    Ben, após convidar a moça para jantar em seu apartamento e receber uma resposta positiva da mesma, não pode deixar de olhar para os ajudantes da mudança e para as crianças com um certo ar de superioridade, pois dessa vez, Ben havia vencido.

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