O Reencontro

Há Trinta anos ela me abandonou... Disse seu costumeiro "te vejo mais tarde" e nunca mais voltou, será que foi da boca pra fora? ela costumava fazer isso para botar em prova meu amor... Eu poderia ir atrás dela, mas como um cãozinho fiel aguardo sua volta pacientemente... minha paciência já dura trinta anos e... Durante esse tempo muitos já me disseram pra seguir com a vida, mas não é possível... Não sem ela. O que me fez ficar esses trinta anos em pé e agüentar a vida cinza da qual sou apresentado todos os dias foi a promessa dela... "te vejo mais tarde"; nunca dei tanta importância para essa frase como naquele dia, queria ter dito um "eu te amo, volte logo" e ainda espero dizer isso, mas estou doente e não conseguirei esperá-la por muito mais tempo.

Esta noite ela vem: abrindo a porta com um tufão, milésimos de segundos até subir as escadas, chegando junto com um vento gélido; apesar de seu silêncio entre as visitas em meu quarto, sou o único a percebê-la, muito mais linda do que quando me deixou, com seu vestido branco estava irradiando uma paz e tinha uma voz serena, de veludo... Oh Deus! não envelheceu um ano sequer.

-Por que demorou tanto? - eu pergunto com uma voz fraca.

-Ser atropelada não estava nos meus planos, mas vim te tirar daqui.

-Eu adoraria ir com você, mas meu corpo esta tão pesado e estou tão cansado que mal consigo me levantar... Queria estar bem vestido para recebê-la, me perdoe - fiz uma pausa para recuperar o fôlego - Você não envelheceu nenhum pouco nesses trinta anos.

-Você não tem necessidade de pedir perdão, apenas descanse enquanto eu cuido de tudo.

Nem meus filhos, nem os médicos na sala se conscientizaram da nossa conversa, parecia que já não estavamos naquele mundo.

-Temo fechar meus olhos e perdê-la de novo.

-Eu não vou mais sair do seu lado, é uma promessa...

Fechei meus olhos confiando na paz que a voz dela emanava e assim meu corpo ficou leve, rejuvenesci os trinta anos de ausência, estava descansado, mas o mais importante de tudo: eu estava novamente ao lado dela, da pessoa que sempre amei, não me importava o que nos acontecesse ou para onde ela fosse, eu só queria estar junto e parece que nem o tempo e nem a morte foi capaz de nos separar.

Autor: Vinícius Pacheco Silva